1 de out. de 2014

IDEB 2013

A divulgação do IDEB 2013 foi seguida por comemorações, preocupações e dúvidas entre integrantes das diversas redes e sistemas de ensino.
Houve certa alegria no Rio Grande do Sul ao receber a notícia que nosso IDEB subiu para o segundo lugar, ficando em destaque no cenário nacional.
Para lembrar, o IDEB depende de duas coisas: rendimento e aproveitamento. Que quer dizer isso? Calcula-se a nota tirada na avaliação nacional (testes de português e matemática) e multiplica por valor calculado a partir das taxas de aprovação em cada série de um ciclo.
Para uma nota 5 e uma taxa de aprovação de 50%, o IDEB cai para 2,5. Para essa mesma nota 5, mas com taxa de aprovação de 75%, o IDEB ficará em torno de 3,75¹.

Muitos sistemas podem ter percebido o impacto que melhorar as taxas de aprovação têm sobre o IDEB. Mas é uma medida que não surte efeito de longo prazo. Para continuar melhorando, os alunos precisarão aprender, não apenas passar de ano.
O ensino público estadual do Rio Grande do Sul, por outro lado, não vinha trabalhando nisso, mas ficou atento nesses últimos quatro anos. Nossos alunos de Ensino Médio tiram boas notas no ENEM e no sistema nacional de avaliação (procure por Prova Brasil, SAEB, ANA,...), mas a taxa de aprovação fazia despencar nossa posição no ranking...
Ao receber os dados do SAERS em 2009, projetei que, se conseguíssemos aprovar um ou dois alunos a mais por turma mantendo as notas (ou seja, sem reduzir a aprendizagem), o IDEB do Ensino Médio nas escolas estaduais do RS seria imbatível. Claro que seria um desafio muito difícil de ser cumprido, pois tem sido difícil segurar parte de nossos jovens nos estudos. O problema maior no Rio Grande do Sul está na taxa de aprovação na região Sul, metropolitana de Porto Alegre e metropolitana de Caxias do Sul. São regiões que atendem boa parte da população estudantil e com reprovação e evasão expressivas.
No mapa acima, elaborado pela Secretaria de Planejamento do RS, vê-se bem a distribuição de nossa população por regiões. Porto Alegre e municípios vizinhos concentram boa parte da população.

Nesses quatro anos, a reforma curricular nas escolas estaduais parece ter se concentrado mais efetivamente em adicionar a disciplina "seminário integrado" e estabelecer critérios de aprovação por meio de menções. O aluno não é mais reprovado por disciplina, exceto se não mostrar domínio mínimo em área de conhecimento (Linguagens, Ciências da Natureza, Matemática e Ciências Humanas). Antes parte dos alunos era reprovada por não alcançar um mínimo (geralmente nota 50 ou 60) em pelo menos uma disciplina. Agora ele deverá ser aprovado se conseguir ir bem na maioria das disciplinas de cada área. Pode ir mal em língua portuguesa e passar de ano se conseguir mostrar bom rendimento em artes, educação física e outras disciplinas relacionadas.
Isso ajuda a responder a pergunta: por quê o RS pulou para os primeiros do ranking no IDEB? Resposta: a taxa de aprovação aumentou.


A tabela abaixo mostra as taxas de aprovação em cada série do ensino médio nos anos com divulgação do IDEB.
Algumas escolas ou cursos de ensino médio vão até 4ª série
Na coluna amarela da tabela acima, P é o Indicador de Rendimento calculado pelo INEP a partir das taxas de aprovação informados no Educacenso. Quanto maior esse indicador, melhor, pois ele é multiplicado pela nota padronizada tirada pelos alunos nas avaliações.
Até 2011, o Ensino Médio das escolas públicas estaduais não conseguia superar a faixa dos 60% de aprovação. Isso foi conseguido 2012 e 2013. Esses mesmos dados podem ser colocados em gráficos. Repare o salto dado na taxa de aprovação na 1ª série do Ensino Médio (trecho cor de abóbora).

Uma vantagem dos testes padronizados como os do SAEB é podermos comparar os resultados ano a ano. Para o Ensino Médio das escolas estaduais do RS temos²:
Ano Matemática Língua Portuguesa N P IDEB (NxP)
2013 a divulgar a divulgar 4,72 77,8% 3,67
2011 286,42 273,1 4,80 71,5% 3,43
2009 299,34 284,71 5,16 70,6% 3,64
2007 287,02 274,74 4,83 69,9% 3,37
2005 300,07 276,95 5,05 68,0% 3,4
N = Nota Padronizada | P = Indicador de Rendimento
O que podemos constatar irrefutavelmente para as escolas públicas estaduais do RS: 
1) a nota nos testes caiu nas duas últimas edições para valores nunca antes tão baixos, desde que o IDEB foi criado;
2) a taxa de aprovação cresceu tanto nesses últimos anos, que fez nosso IDEB aumentar.
Essas duas inferências me remetem às repetidas falas de nossa SEDUC sobre os investimentos feitos nas escolas nos últimos anos como corresponsáveis pela melhoria do índice. Fico a pensar no que tanto investimento melhorou a qualidade da educação. Alerto que nossos gestores da educação devem ficar atentos ao que os indicadores educacionais desses últimos anos podem estar apontando como tendência. Nossos gestores devem ficar atentos se os investimentos na educação estão sendo feitos de forma adequada, onde é necessário. Não pensem aqui que estou com um discurso "neoliberal" ou "visão empresarial". Pelo contrário, minha preocupação é que não sedimentem o pensamento de que os problemas na educação se resolvem com mais dinheiro. Vale também o alerta para quem saiu às ruas em 2013 pedindo mais verbas para a educação. "Mais verbas para a educação" não seria um mantra que, de tanto ser repetido, resolveria a educação. Assim como em outras áreas de atividade humana, educação não se resolve com dinheiro apenas. Ele pode fazer parte da solução mas, se mal usado, teremos dívidas apenas.
Não podemos perder nem eficiência nem eficácia. É bom que nossos alunos sejam aprovados. Melhor ainda que aprendam.
Será que nós, professores, somos muitos exigentes? Será que ensinamos mal? Nossos alunos estudam? Eles sabem estudar? Família e sociedade valorizam os estudos? Valorizamos os estudos? Estudar mesmo. Costumo comentar com meus alunos a importância de serem estudantes e não apenas frequentadores da escola. Passar de ano até que é fácil. Difícil é aprender. Exige esforço. Um esforço que talvez falhemos em ajudá-los a superar no Ensino Médio, após passar 9 anos no Ensino Fundamental com parte expressiva de conteúdo memorizável. Talvez o Ensino Fundamental privilegie um tanto mais a memorização que o Ensino Médio e aí esteja uma questão a ser pensada.
Às vezes, fico um pouco triste por remarmos contra a maré. Em recente palestra, um representante da Secretária de Educação nos contou do trabalho de reflexão com um professor de física com um caso de reprovação de aluno. O palestrante da SEDUC indagou o professor se ele estava seguro de reprovar o aluno que não sabia calcular o valor de uma resistência em um circuito elétrico. "Professor, ele não vai ser um engenheiro eletricista", teria dito. Acredito que foi uma abordagem infeliz. Ele poderia ter refletido mais profundamente: o aluno estaria com um problema grave de aprendizagem? Isso porque para calcular resistência em circuito elétrico simples basta dividir dois números. Grosso modo, o encaminhamento foi decidir se aprovava ou não um aluno do último ano do Ensino Médio que não sabia fazer operação de divisão em um problema. O resultado do IDEB do Rio Grande do Sul, à luz da taxa de aprovação, realmente requer reflexão.

Clica em cada ano abaixo para ver as taxas de aprovação no Ensino Médio por município na Rede Estadual.
| 2007 | 2008 | 2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 |



O IDEB é um índice bem interessante ao comunicar mais facilmente o estado das coisas. Se por um lado aproxima a sociedade como um todo para acompanhar a educação, por outro lado ele não é bom quando vira número para fazer ranking. Ranking não faz sentido e sucessivos governos já explicaram o porquê. Ele parece bom para quem ocupa as primeiras posições, mas esconde os porquês (realidades sociais e econômicas, estrutura da escola, etc). Algo que o professor Chico Soares, presidente do INEP, sabe muito bem e já anunciou que vai trabalhar nisso, a exemplo do que fez pelo SAERS a partir de 2008. Faço votos para que ele consiga implantar o conhecimento e técnica que domina para que a sociedade tenha melhor entendimento sobre o que ocorre com nossa educação. 

¹ Para simular outros valores, use a tabela que criei em http://g2025.blogspot.com.br/2010/11/ideb-2.html.
² Apenas por curiosidade, a tabela abaixo mostra as notas nos testes de Matemática e Língua Portuguesa para o terceiro ano do Ensino Médio entre 1995 e 2005 (públicas urbanas, exceto federais). As notas das públicas gaúchas foram sempre as mais altas do país de 1997 a 2005. Em 1995, tirou o segundo lugar por alguns décimos. O primeiro lugar foi para o Distrito Federal.
Ano Matemática Língua Portuguesa
2005 300,0 276,8
2003 294,5 279,4
2001 302,1 279,4
1999 294,5 271,1
1997 316,2 303,5
1995 286,1 296,8

 
Saiba mais:
http://www.qedu.org.br/estado/121-rio-grande-do-sul/ideb?dependence=2&grade=3
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/portal_ideb/o_que_e_o_ideb/nota_informativa_ideb.pdf
http://portal.inep.gov.br/web/saeb/aneb-e-anresc  

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